Níveis de carreira

A terminologia usada no mundo acadêmico varia de país para país, o que pode gerar uma certa confusão mesmo para quem faz parte desse mundo. Por essa razão, decidi adicionar este guia ao meu site. Focarei somente em quatro países.


Progressão de carreira

Vamos a uma rápida comparação entre os níveis de carreira mais comuns para vagas permanentes com dedicação exclusiva e em tempo integral no Brasil, EUA e Canadá, Québec, e Reino Unido (RU). Excluo da tabela professores eméritos e professores que detêm cátedras (e.g., James McGill Professor of …).

# Brasil EUA/Can Québec RU
1 Professor adjunto Assistant professor Professeur adjoint Lecturer
2 Professor associado Associate professor Professeur agrégé Senior lecturer
3 Professor titular (Full) professor Professeur titulaire Reader

Além da tabela acima, é preciso esclarecer que o sistema do Reino Unido tem uma variação em sua nomenclatura. Algumas universidades têm adotado a nomenclatura norte-americana; outras têm “pulado” o nível Reader e ido direto para Professor. Tradicionalmente, contudo, o título Professor no Reino Unido está acima de Reader, e não tem um equivalente óbvio no sistema norte-americano—uma opção seria equiparar Professor no Reino Unido a Distinguished professor, por exemplo. Ou seja, Professor seria um “nível 4” na tabela acima (similar, mas não igual, ao termo “Livre docente” no Brasil).

Tudo depende da região e da universidade. Em média, contudo, um professor é adjunto (nível 1) por 4–7 anos até passar ao nível de professor associado (nível 2). Para passar ao nível 3, é feita uma análise geral do currículo do professor associado. Em algumas universidades norte americanas, é possível ir de adjunto a titular em 10–15 anos, mas esse período naturalmente varia bastante e depende de diversos fatores. Nem todo professor vira titular ao longo de sua carreira.

Algumas diferenças

No Brasil, um professor adjunto ganha sua permanência (equivalente à tenure) logo após o período probatório (um processo rápido). Assim, você pode ser professor adjunto com tenure bastante cedo na sua carreira. No Canadá e nos EUA, o período probatório e a permanência são conceitos separados e independentes. Você pode passar pelo período probatório (2 anos, geralmente) mas ter a tenure negada alguns anos depois. Isso ocorre porque é mais demorado adquirir a tenure fora do Brasil. Normalmente, um professor apenas recebe sua tenure depois de 5–7 anos enquanto adjunto (assistant professor). Com a tenure, esse professor passa de assistant professor para associate professor (em universidades anglófonas na América do Norte), ou de professeur adjoint a professeur agrégé (em universidades do Québec).

Os sistemas norte-americano e britânico possuem algumas diferenças importantes. Na América do Norte, há tenure. Vagas permanentes são chamadas de tenure-track, ou “TT”. Nesses casos, um professor adjunto geralmente1 ganha sua tenure quando vira professor associado e trabalha na universidade até a sua aposentadoria—esse é o cenário típico na maioria esmagadora dos casos, embora haja pessoas que troquem de vagas permanentes ao longo de suas carreiras (eu sou uma dessas pessoas). Newcastle UniversityNeste sistema, há duas opções apenas: ou você ganha sua tenure, ou você sai da universidade. Tudo dependerá da sua produtividade e de uma série de fatores (pesquisa, ensino, serviço).

No Reino Unido, tecnicamente, não há vagas tenure-track desde 1988. Ou seja, você já entra “com a permanência”, e não está em uma track: seu contrato é simplesmente aberto (mas há um período probatório). Por um lado, isso é bom: você não tem a pressão de “conseguir a sua tenure”. Por outro, é ruim: o conceito de tenure é algo quase sagrado no mundo acadêmico. Além disso, diferentemente da América do Norte, você pode permanecer adjunto (Lecturer) por décadas (mas seu salário terá o teto dos adjuntos). Na prática, contudo, vagas permanentes no Reino Unido são similares a vagas permanentes na América do Norte—embora seja possível argumentar que a estabilidade da vaga com tenure norte-americana seja maior do que uma vaga no sistema britânico. Entre 2022 e 2024, por exemplo, houve alguns casos em que departamentos no Reino Unido foram simplesmente fechados, o que resultou na demissão de professores que possuíam vagas “permanentes”. Situações similares já ocorreram nos EUA. Trata-se de uma situação estatisticamente raríssima. No Canadá, a segurança de vagas permanentes é maior, especialmente em regiões com forte presença sindical (no Québec, por exemplo, a estabilidade é indistinguível daquela obtida em concurso federal no Brasil). Na prática, a estabilidade de uma vaga permanente é excelente (mesmo no Reino Unido), daí a alta procura por esse tipo de vaga. Por fim, embora professores universitários em universidades públicas sejam servidores públicos, vemos aqui um tipo de relação empregatícia levemente diferente do que temos em universidades brasileiras: o salário de um professor de universidade pública na América do Norte e no Reino Unido é pago pela universidade, e não diretamente pelo governo federal.

Confusões comuns

É comum ficar confuso com a terminologia acima, especialmente porque falei apenas de vagas permanentes. Contudo, também existem termos para posições não permanentes e posições acadêmicas que antecedem os níveis já mencionados.

  • Assistant professor é um professor, como vimos. Teaching assistant (TA), contudo, é um aluno que auxilia o professor—termos similares, mas conceitos e responsabilidades bem diferentes. Não é raro ver brasileiros que, após serem TAs nos EUA, voltam ao Brasil e colocam em seus currículos que foram Assistant Professors (um erro). Université Laval
  • Research assistant (RA) seria equivalente a um bolsista de iniciação científica, embora seja possível ser um assistente pós-graduando também (Graduate research assistant). No Reino Unido, também é possível ser um Research associate, que implica ter um doutorado e fazer pesquisa em um determinado departamento (ou seja, uma posição pós-doutorado).
  • Via de regra, lecturer nos EUA e no Canadá significa “professor temporário”. Lecturer no Reino Unido significa professor permanente em início de carreira.
  • Adjunct professor nos EUA significa “professor temporário”—há uma imensa crise de adjuntos nos EUA. No Brasil e no Québec, “adjunto” significa “permanente”. No Québec, em universidades francófonas, esses professores são geralmente chamados de chargés de cours.

É preciso esclarecer que sempre há exceções às generalizações acima. Por exemplo, nem todo Associate professor na América do Norte tem tenure. Em algumas universidades, por exemplo, virar associado não acarreta ganhar tenure. Da mesma forma, nem todo Assistant professor está em uma tenure track, já que algumas universidades usam esse termo para vagas não permanentes também.2 O que descrevo aqui é o que normalmente acontece.

Tratamentos diferentes

Na América do Norte, professores em universidades anglófonas são chamados de professor, Dr, ou são simplesmente chamados pelo nome. Tudo dependerá do nível de formalidade da área e da universidade (dos “costumes” acadêmicos locais). Na escrita, frequentemente usamos Nome Sobrenome, PhD. No Québec, são comumente chamados de Monsieur/Madame Sobrenome. Na escrita, costumam ser referidos por Nome Sobrenome ou Professeur(e) Nome Sobrenome.

McGill UniversityNo Reino Unido, professores com doutorado tendem a ter Dr à frente de seus nomes (em vez de PhD após seus nomes). Serão chamados de Dr Sobrenome ou por seus nomes (novamente, tudo depende do costume local). Na escrita, todo professor será Dr Nome Sobrenome. Somente quem chegou ao nível de professor é chamado de professor. Ou seja, quase nenhum professor é professor no Reino Unido (ver tabela acima).

Para resumir, um professor de nível 1, 2, ou 3 na tabela acima provavelmente será chamado na escrita de Prof. Dr. Nome Sobrenome no Brasil, de Nome Sobrenome, PhD nos EUA e nas regiões anglófonas do Canadá; de Nome Sobrenome no Québec; e de Dr Nome Sobrenome no Reino Unido. Naturalmente, há variações e diferentes títulos dependendo da universidade.


Copyright © 2024 Guilherme Duarte Garcia

Notas de rodapé

  1. Há universidades em que professores associados ainda não têm tenure. Uma vez que recebam a tenure, esses professores viram full professors, ou seja, professores titulares. Esse sistema existe, por exemplo, na Universidade de Harvard.↩︎

  2. Eu fui, por um semestre, assistant professor na Concordia University, em uma vaga temporária. Lá, um lecturer com PhD completo era chamado de assistant professor em contratos de tempo limitado.↩︎